domingo, 6 de novembro de 2011

Opeth - Heritage

Confesso que eu realmente não sei por onde começar essa post... O principal motivo pra isso é que estou tentando resenhar este disco há um bom tempo, mas queria fazer isso da forma mais coesa e imparcial possível. Pra quem ainda não sabe, eu sou um fã de carteirinha do Opeth e um admirador ferrenho de música progressiva! Isso por si só já me desqualifica (em parte) pra falar deste disco especificamente. Bom, vamos lá mesmo assim!


A primeira coisa que nos chama atenção logo de cara é essa capa psicodélica que remete automaticamente ao rock progressivo da década de 70. Isso já foi mais suficiente pra deixar os fãs de cabelo em pé (inclusive eu). Como se não bastasse, o líder do grupo Mikael Åkerfeldt (vocal/guitarra) resolveu anunciar que este álbum não contaria com os habituais vocais guturais que já é (ou era) uma das principais referencias quando se fala em Opeth.
Agora vamos ao conteúdo do disco (ah! o conteúdo). Pois bem, leitores, o que encontramos aqui é uma banda completamente diferente, mas ainda assim, a mesma! Difícil de entender? Eu explico. Em Heritage temos um certo abuso de experimentações e muita (muita mesmo) progressão. Mesmo assim, nota-se a "jeito Opeth" de fazer música progressiva. Eu considero algo diferente de tudo que a banda fez até hoje. É um disco pra ser "degustado" lentamente e acho bem difícil - pra não dizer impossível - que alguém acostumado com músicas mais diretas goste desse álbum.
A primeira faixa, "Heritage", meio que nos prepara pro que está por vir. Uma pequena faixa instrumental, uma introdução simples e calma. Em seguida temos a primeira música divulgada antes do lançamento oficial: "The Devil's Orchad". Logo de início já somos bombardeados com uma pegada "jazzistica", algo que se mantém ao longo de toda a música. Têm-se logo de cara a sensação de voltar no tempo, esta é a primeira coisa que vem à mente sem sombra de dúvidas! Através dos seus quase sete minutos, "The Devil's Orchad" abusa de contratempos (principalmente na bateria). Em determinados momentos, percebe-se também um sutil flerte com o Avant-Garde e muitos toques psicodélicos. Esta faixa define bem o que você vai encontrar pela frente, aconselho que a ouça pelo menos duas ou três vezes antes de passar para a próxima e se não gostar dela, pode parar poraí mesmo! (rsrs)
"I Feel The Dark" traz um clima mais melancólico. Uma música densa e pesada com belíssimas passagens de violão. Destaque ainda na passagem mais "agressiva" que faz a música crescer bastante e acrescenta um toque todo especial. Em "Slither" já percebe-se uma pegada mais influenciada pelo hard rock setentista. Apesar de ser uma ótima faixa, considero a única que soa um tanto quanto fora do contexto geral do álbum, não tendo nenhum propósito de estar ali.
A quinta faixa, "Nepenthe", já retoma o clima progressivo do álbum, acrescido ainda a mais elementos jazzísticos e psicodélicos. O mesmo se repete em "Häxprocess", que parece mais uma extensão da música anterior. Vale ressaltar todo o trabalho da cozinha, o entrosamento e as dobradinhas entre baixo e bateria são excepcionais!
A sétima música do disco, "Famine", continua mantendo o clima obscuro criado na faixa anterior. Porém, a maior canção do álbum nos mostra mais experimentações inesperadas e surpreende pela ousadia. Com uma pequena introdução fazendo uso de percussão "tribal" a banda consegue montar uma pegadinha, por assim dizer. Digo isso pois, logo após esta pequena intro, temos uma mudança pra linhas de piano bem suaves que preparam o terreno pra Åkerfeldt fazer a parte dele, mais uma vez num tom completamente imerso em melancolia. Porém, essa calmaria melancólica não dura muito! Por volta dos 3 minutos temos uma progressão  brusca e inesperada, a música cresce no contexto geral e nos atira no meio de contratempos jazzísticos temperados com psicodelia. O ponto que eu PRECISO destacar nesta música é, sem sombra de dúvidas,  o solo de flauta contrastando sobre um riff "carregado" e obscuro. Pra quem curte experimentação e coisas inesperadas, "Famine" é um prato cheio!
O que fica evidente a cada faixa que passa é a forte influência do Jazz, em especial na bateria e no baixo. Acho que todos hão de concordar nesse quesito. "The Lines In My Hand" comprova isso sem deixar espaço pra dúvidas. A menor música do disco (sem contar a intro), apesar de ter uma pegada mais "animada", consegue se destacar pela imprevisibilidade constante nas linhas de bateria e pela quantidade de informação apresentada em um curto espaço de tempo. Arrisco-me a dizer que seja uma das melhores do álbum!
Mantendo a pegada de Jazz misturado com psicodelia, temos "Folklore", a segunda maior faixa. Ainda mais experimental e acrescida de algumas pitadas de Blues. Belíssima música.
A fabulosa instrumental "Marrow Of The Earth", surpreende pela sua gama de influências apresentadas de forma tão simples e "limpa". A faixa mais melancólica e bonita encerra o álbum com chave de ouro. Difícil de se descrever a sensação que se tem ao ouvi-la. Ouça e vai descobrir do que estou falando.
Ao fim de "Heritage", a primeira coisa que poderá vir a mente é: "mas que p*&%# foi essa?". É realmente assim, este álbum não é algo à ser assimilado logo na primeira audição. Se você espera algo acessível, melodioso e de fácil compreensão... passe longe de Heritage! Este álbum é diferente de tudo que vem sendo feito na música contemporânea em geral, de modo que não há parâmetros comparativos pra que possamos ter uma base geral da obra. Com pouquíssimos elementos de Heavy Metal, com certeza absoluta este disco não vai agradar aos mais puristas. Então, se você se enquadra neste grupo, passe longe também. 
É preciso ouvir várias vezes e prestar bastante atenção à todos os pequenos detalhes para poder entender o que é Heritage. Uma audição rápida e superficial certamente não será o suficiente para compreender toda a complexidade deste álbum, complexidade esta que vai da capa até ultima nota da ultima música.
Eu preciso reconhecer que eu, mesmo sendo um fã da banda, tive a sensação de estranheza ao ouvi-lo pela primeira vez. Porém, após várias audições e reflexões sobre o que estava ouvindo, consegui formar uma opinião concreta. E a minha conclusão foi a seguinte: Åkerfeldt é um gênio louco! É, isso mesmo! É surpreendente a coragem e a criatividade dele na concepção de Heritage. Algo realmente fora do comum se levado em consideração tudo que ele, junto com a banda, vem fazendo ao longo desses vinte anos de carreira. Com toda a certeza este lançamento irá dividir opiniões, conquistar novos fãs e perder os mais antigos, mas creio que o Mikael já tinha isso planejado.
Finalizando, eu NÃO recomendo esse disco. Pelo menos não recomendo pra qualquer um, pois não serão todos que terão a paciência e a atenção em tentar compreender todas as informações aqui apresentadas. É um álbum excepcional e sem igual, mas não vai agradar à todos os fãs da banda e/ou de Heavy Metal.
Ouça Heritage por sua própria conta e risco e tente decifrá-lo. Uma coisa eu posso garantir: Ou você vai amá-lo ou vai odiá-lo.
Não acredita no que eu digo? Então confira o primeiro video clip de "The Devil's Orchad". E boa sorte =P



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